terça-feira, 23 de junho de 2009

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM 5

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM
Ou 'Como acabar com a sua pose de durão em 20 capítulos'.

CAPÍTULO 5: A dor. Minha eterna companheira.

Quando chegamos à uma certa idade (rs), com muitos problemas na cabeça, passamos a esquecer detalhes insignificantes como nomes e datas. Não me lembro quando isso aconteceu, mas era moleque e ainda morava em Paramirim.

Era um Sábado. Estava nas obras do que viria a ser o Roseirão, um 'campinho' cercado, chamado de estádio pelo pessoal de Durval Leão, prefeito na época. Não tinha gramado ou arquibancadas, o que só aconteceu anos depois. Cidade pequena, interior da Bahia. É, pra nós era um estádio mesmo.

Passei boa parte da tarde ali, vendo os últimos preparativos para a inauguração. Não lembro também qual foi o jogo de abertura, mas tenho quase certeza de que a 'seleção' da cidade perdeu. Anyway.

Já era tarde, quase 7 da noite e todos estavam indo embora. O Roseirão não fica lá muito longe da minha casa, como tudo numa cidade pequena. No entanto, a besta aqui, moleque, quis porque quis ir na carroceria do Ford Pampa. Fui, tonto que sou e ao chegar em frente à minha casa, o motorista (também não lembro quem) perguntou se eu iria descer.

"Pô, tá gostoso andar aqui em cima, vou mais um pouco depois volto", pensei. Como eu disse, moleque. Falei que desceria mais pra baixo e desci em frente a casa de Buim.

Ao lado, havia um terreno baldio e Neném, o zoinho, dono de uma borracharia estava queimando pneus velhos nesse terreno. Muitos garotos que eu conhecia estavam lá, brincando com aquilo. Não quis ficar pra trás e fui ao encontro deles.

A fumaça era densa, o cheio insuportável, mas, por algum motivo que Deus ou o Diabo sabem, eu precisava ir lá. Precisa mexer com aquela merda daquele fogo. E fui.

À princípio só olhava, mas com o tempo comecei a chegar mais e mais perto, ver o que os outros faziam e querendo fazê-lo também.

Tudo estava bem, até que um garoto mais velho, bem filho da puta, começou a 'cutucar' a porra da borracha perto de mim. De repente, o inferno!.

Só vi aquele fogo todo, vindo na direção do meu rosto e desviei, mas não salvei meu braço. O palhaço, no que cutucou, acabou jogando um pedaço considerável de borracha de pneu queimada (e ainda queimando) em mim.

A minha sorte é que eu estava sem camisa, com a regata na cintura. Se estivesse vestido, teria me queimado todo.

Enfim, saí correndo, desesperado, chorando e sentindo muita dor. Chegando em casa, susto em todos, que correram pra tentar me ajudar. A minha tia Adelice, sabe-se lá Deus porque, quebrou um ovo e jogou no meu braço.

O ovo FRITOU ali mesmo, no antebraço. Juro por Deus. Como disse, não sei porque ela fez, mas, meu, aquela imagem me deixou mais assustado ainda. E aquela porra queimava. E aquilo doía. Horrível. Quase não dormi.

No outro dia, fomos ao hospital. Passei meses sendo ridicularizado na escola (é só pra isso que essas instituições servem mesmo), inventaram apelidos, fizeram piadinhas. E eu, fudido, com aquela porra daquele braço praticamente imobilizado.

Às tardes, em casa - se quiserem rir, dane-se - a minha avó coloca uma folha de bananeira verde, no meu suvaco, para evitar que a pele queimada do braço grudasse na pele queimada do resto do corpo.

A pele se recuperou e hoje tenho só as cicatrizes, pra me lembrar que 1) menino, sai de perto do fogo e 2) eu só me fodo nessa merda dessa vida!

Um dos momentos mais filhos da puta que passei. Jamais esquecerei.

Nunca mais cheguei perto de fogo algum (rs), mas continuo me fodendo. Não é mesmo?

São Paulo, 13 de Abril de 2009. 18 dias e contando.

P.S.: Peço desculpas pelos palavrões, mas, por acaso (e só por acaso) estou meio puto nesse momento pelos mesmos motivos de sempre. Mas não deixarei de escrever as histórias. 20 delas. Até o aniversário. Para que todos saibam quem eu fui e o que fiz. E me esqueçam, se quiser, mas não esqueçam o que fiz, como muitos fizeram. Minha história. Meu epitáfio. Abraço à todos!

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