terça-feira, 23 de junho de 2009

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM 10

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM
Ou 'Como acabar com a sua pose de durão em 20 capítulos'.

CAPÍTULO 10: Viver pouco como um rei ou muito como um zé?

"What shall it profit a man to gain the whole world and lose his soul?"

Como quer ser lembrado, quando partir? Como uma pessoa que viveu lutando pelo que acreditava ou como aquele que iludido pelo que não conhecia perdeu seu caráter, sua alma? Não sei quanto a você, mas eu não estou nesse mundo à passeio. Fui criado para ser um Homem. Caráter é tudo o que eu tenho. Não aceito menos de quem se propõe a dividir a vida comigo, seja homem ou mulher.

Tomei muitas pauladas por defender aquilo em que acreditava. Abri meu coração à quem quisesse entrar e por diversas vezes fui apunhalado. Com o tempo você fica descrente, perde a fé nas pessoas. Depois percebe que sua atitude foi correta e aquelas pessoas que o tratavam bem, abraçavam, beijavam, sorriam para você, nunca foram o que imaginava. Enganado, passado para trás, você cria personagens e situações para tentar tolerar aqueles que abusaram da sua confiança e te machucaram.

Mas é perda de tempo. Eu estava certo. As pessoas não mudam da noite para o dia. Não há como esconder quem você é por muito tempo. A máscara cai e o que sobra, imundo e sem graça, é o que você é. Tenha vergonha de você mesmo. Eu teria.

Não sou santo. Fiz muita merda nessa vida, magoei muitas pessoas, mas nunca lhes deixei acreditar que eu era algo diferente do que sou. What you see is what you get. Bem ou mal. Não preciso me esconder, nem tenho medo de nada. Se eu não for com a sua cara, fique certo de que jamais receberá de mim mais do que um aceno, lá de longe. E se eu for, não terá amigo melhor, garanto. Mas não me sinto na obrigação de gostar de você. Simples assim.

Veja esse caso, por exemplo. Trabalhei uma década com o mesmo chefe, um senhor de 76 anos que me ajudou bastante quando cheguei na cidade, pagando cursos e salários acima da média, só por me achar digno de sua confiança e aposta.

Sou muito grato à ele por isso, entretanto, trata-se de uma pessoa que não morre de amores pelo ser humano em si.

Certa vez me falou que "era assim e quem não aceitasse aquilo que saísse de perto". Sincero. Respeito quem sabe o que é. Intolerante com falhas e às vezes desrespeitoso com subalternos, suas atitudes me ajudaram a entender que há coisas que passam despercebidas, mas que moldam a sociedade em que vivemos. A necessidade faz com que criemos formas de lidar com essas coisas, mas saber o que você é faz com que não se contamine.

Outra coisa, eu não tenho raiva da polícia, como muitos colegas meus. É uma entidade importante para o funcionamento dessa joça. A polícia mete medo e medo é melhor do que respeito em posições de autoridade. Além do mais, em todos os setores há corrupção.

Hoje em dia é quase uma necessidade ser corrupto.

Dois tios meus foram presos em períodos diferentes. O primeiro porque se deixou iludir por colegas, o segundo porque estava no lugar errado, na hora errada, com a pessoa errada. Quem merecia mais, pela lição, ficou só um dia preso. O outro, inocente de tudo, quatro meses.

Era para eu ter raiva da polícia? Tive raiva deles! Ambos homens de bem, que caíram por acreditar em quem não era digno de cofiança. Eu acho, sem hipocrisia, que se você fez coisa errada, tem mesmo que ser punido. Por isso escolho em quem confiar e (quase) sempre acerto. Não me misturo só para 'enturmar'.

Cheiro nêgo pilantra à quilômetros de distância, por isso não fiz amizade com alguns de seus amigos. Simpático sempre, mas não me misturo. Só quando cair, entenderá meus motivos.

A vida é sua, lógico, faça o que quiser, mas não me procure para limpar a merda que outros fizeram, porque eu te alertei. Estarei ao seu lado para o que der e vier, por toda a vida, mas não passo a mão na cabeça de quem não sabe usá-la.

Você me conhece.

São Paulo, 18 de Abril de 2009. 13 dias e contando.

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