terça-feira, 23 de junho de 2009

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM 14

LEMBRANÇAS DE UMA VIDA COMUM
Ou 'Como acabar com a sua pose de durão em 20 capítulos'.

CAPÍTULO 14: Sem palavras.

Poucas pessoas tem tanta importância na minha vida quanto minha avó Maura e meu avô Valdemar. São eles meus pais verdadeiros, pois tiveram a tarefa não muito simples de me criar e educar. Graças aos dois e aos meus tios, hoje sou o Homem que sou.

Com pouco mais de 6 meses de vida a minha mãe me deixou na Bahia para ser criado por eles. Não poderia ter feito coisa melhor. Devo tudo o que sou aos dois.

Talvez, se tivesse sido criado com ela, aqui em São Paulo, não teria metade das qualidades que tenho. Primeiro, porque a minha mãe sempre trabalhou fora, nunca parou muito em casa para cuidar de ninguém, por mais que quisesse e sei que sempre quis. Não teria a atenção, o carinho e os 'puxões de orelha' que recebi.

Segundo, porque a falta de opções e recursos que tínhamos em Paramirim ajudaram a fazer com que eu aprendesse a valorizar mais o que realmente importa nessa merda de vida. Coisas que os olhos não podem ver, saca?.

Em Sampa, com todas as possibilidades por perto, não teria me esforçado tanto, acho.

Meus avós sempre foram pobres e honestos e sempre trabalharam duro. De família humilde e sofredora, Dona Maura começou a pegar no batente ainda criança, na roça. Ao longo da vida, ela me contou diversas histórias tristes e emocionantes de luta e sofrimento. O mesmo aconteceu com Seu Valdemar. Passaram a vida buscando meios de dar aos seus filhos e netos o que não tiveram. Sofreram muito, muito mesmo, para conseguir o pouco que conseguiram e nos fazer pessoas de bem. Heróis anônimos de um país que não olha para o seu povo.

Vocês souberam como ninguém me lapidar. Conseguiram fazer daquele moleque loirim, cabelo de "sopeira" um Homem inteligente, de caráter e de coração bom. Um cara de personalidade forte, às vezes difícil de se lidar, mas vocês conseguiram fazer com que eu absorvesse a quantidade exata de idéias para crescer mentalmente sadio.

Não foi pouca coisa, ainda mais pelas nossas condições. Lembro-me ainda das surras que levei e apesar das minhas malcriações, sempre soube que as merecia. Me desculpe se os ofendi em algum momento. Fui um tolo, mas quem não é, naquela idade?

É muito difícil mensurar a importância real de uma pessoa querida, por mais que tentemos, mas depois que vim para cá é que comecei a entender o que eles tinham feito. O quanto foram (e são) importantes. Sei que dei muito trabalho à eles e falhei em não ser o que sonhavam para mim, com relação aos estudos. Mas sintam orgulho, porque sou o Homem que esperavam que eu fosse.

Graças a Deus os dois ainda estão vivos e rezo para que continue assim por muito mais tempo. Não sei o que seria de mim sem vocês.

Não há palavras suficientes para descrever o que sinto, nem tempo o bastante para agradecer. Quero que saibam que os amo e não vou decepcioná-los.

Homem de bem. Graças à vocês. Muito obrigado.

São Paulo, 22 de Abril de 2009. 08 dias e contando.

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