segunda-feira, 27 de outubro de 2008

ALICE

Henrique mora em Palmas, Tocantins. É um sujeito simples, boa praça, de beleza rústica, um tanto brüt e completamente apaixonado por Alice, alguns anos mais jovem. Alice, jovem, linda, gente boa, "completamente" apaixonada por Henrique. Eles estão juntos há muito tempo, são felizes, estão noivos, fazem planos de se casar e morar junto... enfim, um casal normal, com muitos sonhos.

Infelizmente o pai de Alice suicida-se e ela vem a São Paulo por três dias para acompanhar o enterro e ver se ele deixou alguns mil réis de herança pra ela. Vejam bem: três dias. Como é uma menina "legal" arranja amiguinhos de cara e, surpreendentemente para alguns (o chifronésio do Henrique, por exemplo), nem tanto para outros, ela começa a vadiar cidade à dentro. E dar pra quantos puder. E esquecer do propósito de sua visita. E esquecer do coitado do noivo em Palmas. Totally slut, sacoé?.

A besta do Henrique, em Palmas, não entende o que está acontecendo. O cara ama a menina, dedicou boa parte de sua vida à ela e, derrepente a vaca resolve esculachar! Jogar tudo pro alto! Dar que nem chuchú na seca! E esquecer de voltar!!


- Mas, porra, a gente se ama!. Íamos casar, morar juntos... já estava até preparando nossa mudança... O que aconteceu pra você mudar assim, de uma hora pra outra, Alice?!??

Henrique é mesmo um mané. Alice diz que "gosta dele", mas que está confusa, não sabe o que está acontecendo com ela, o que quer direito da vida... blá blá blá "preciso pensar".


- Pensar em quê, caralho?! Como pode mudar assim, de uma hora pra outra? Você me amava na Segunda e na Terça não ama mais?? É isso?? Como pode, cara?? O que eu fiz de errado??


Você não fez nada de errado, sua besta. Ela é que é uma vabagunda de mão cheia. Te enganou por anos, sugou tuas forças, teu saco, amor, dinheiro, carinho... jurou eterno amor e se abriu ao ver a primeira rôla nova!. Tsc, tsc. Such a loser!


- Há muito tempo não sinto o gosto de outro homem... Bitch!


Esta é, basicamente, a história de Alice, série nacional que a HBO está exibindo todo Domingo às 22h, com infinitas reprises durante a semana. Nada do que está acostumado a ver na Globo. Coisa boa, obra de Karim Aïnouz e Sérgio Machado. Muito bom. Vi, gostei e recomendo.


A história parece bobilda, os temas mais do que antigos, mas a abordagem é muito bem feita pelos produtores. É divertido ver as estripulias de Alice, com aquele corpão, peituda, se amostrano para todos os caras, se esfregando com seus colegas de trabalho e dano, dano mermo pros bonitões que encontra na noite paulistana.


Quero dizer, divertido até você tentar se colocar no lugar do Henrique - lembra dele? - e de tudo o que planejaram juntos e de como ela está fodendo a vida do cara. Tenho certeza que qualquer homem consegue se colocar nesse papel. Se é que já não passou ou está passando pela mesma situação.


Henrique é um cara legal, completamente louco pela Alice, fez tudo o que podia para torná-la feliz e fizeram muitos planos juntos. Agora, aos 47 do segundo tempo, do nada ela muda? Porra, e começa a dar pra todo mundo??? Qualé!


No episódio que foi ao ar ontem, ele foi pra Sun Paulo em busca da "amada". Qual foi a surpresa dele ao perceber que ela (repito do nada) não quer mais saber dele e ainda ficou prenha de outro?? Catso! Me vem à mente Legião Urbana, Vento no Litoral: Lembra que o plano era ficarmos bem. Lembra, vagabunda?? Lembra nada, ? Mulher é um bicho muito esquisito. Nunca sabe ao certo o que quer e sempre machuca um monte de gente tentando descobrir.

Hora querem o cara bonzinho, educado, que se mate de trabalhar (e se endivida) para bancar suas mordomias, que seja fiel e que a ame acima de todas as coisas. O tonto do Henrique é assim. Hora querem um cafajeste, que a coma como se fosse uma prostituta, dê uns tapas na cara e nunca mais a veja. Como atender as expectativas de uma mulher assim, cáspita?!? Mesmo sendo o tipo bonzinho e dando um trato legal, elas querem o segredo, o perigo da escapada.

Depois nós homens é que somos chamados de galinhas!

Não estou dizendo que todas as mulheres são assim (a minha, of course, não é), mas cada vez mais fico espantado com a quantidade de histórias e mulheres que acabam com a vida de um cara. Depois acontecem merdas como em Santo André*.

A série retrata bem esse tipo de mulheres e como suas decisões afetam a vida de todos a sua volta. Vou repetir: HBO, Domingo, 22h. Vale a pena.

E que as mulheres sejam dignas! É só o que peço.

* Nem vem com papinho, não estou chamando a finada Eloá de vabagunda. Jamais. Não morava com ela, não sabia de seu caso com o maluco, somente (just like you) o que li, ouvi e vi na tv. Citei apenas como exemplo. Uma pessoa que ama demais e derrepende é rejeitada se torna um sujeito amargurado, capaz de qualquer coisa. Eu, por exemplo, me considero um cara de boas, mas não sei como reagiria se minha mulher fodesse com a minha vida, como a Alice faz na série com o Henrique.

Um comentário:

Bill disse...

Poxa Denis, parabéns.

Talvez eu seja o único a comentar esse seu texto. E desculpa até se sou meio simplão.

Queria te parabenizar pelo texto e apoiar (e também ser partidário por isso - claro!) essa postura que mantém sobre a minissérie Alice.

Eu sinceramente acho ela um sem-fim de clichês: a garota que sai dum lugar limitado, onde sonhos, e digo sonhos incríveis mesmo(!!!) não têm vez. Mas ai do nada, por uma oportunidade absurda ela vem para a cidade grande e nada "atrasada" e pronto! Se descobre puta, aventureira, junk e cheia de fé na vida nova. Passa a ter mais valor que qualquer nordestino que colocou essa porra de cidade imunda e fétida acima dos céus. Eu falo assim porque detesto São Paulo e a sua diversidade, nas palavras delas, "esses cheiros e cores", não me impressionam em nada.

Ainda que os clichês se limitassem só à ela, mas também passam por toda a série: velhas lésbicas, patroa que se apaixona por pião-motorista-zelador-amante-latino-em-horas-vagas e por ai vai.